Estamos no início de agosto, e no Sul da Europa, significa calor, sol e praia, mas também, tempo de colheitas! Por isso, hoje vamos falar sobre a colheita deste que é um dos frutos mais emblemáticos da região, a alfarroba, ou como se diz por cá, a apanha da alfarroba!
As alfarrobas, juntamente com a amêndoa e o figo, compõem a milenar paisagem de sequeiro tão característica da região mediterrânica. Estes elementos assumem o protagonismo da identidade paisagística e patrimonial da produção agrícola de Portugal.
Embora a alfarrobeira assuma uma distribuição dispersa no território português, é no Algarve que impera pelo valor cultural, patrimonial e sentimental.
Não existe uma data exata para o início do varejo da alfarrobeira, o processo de apanha de certos frutos com recurso a longas varas. Contudo, em meados do fim de julho já é possível observar um pouco por toda a região, este método. O som das varas a bater nos ramos das árvores é tão típico na região mediterrânica como a alfarrobeira!
De forma a contextualizar a informação, vamos explicar em que consiste o varejo:
O varejo é um processo milenar muito duro, feito com longas varas de madeira, ou de cana. Estas, são utlizadas para sacudir os ramos e fazer cair os frutos sobre toldos ou panos que são colocados no solo.
A colheita da alfarroba tem início nas primeiras horas da manhã, quando o calor do verão não é tão intenso, e dura o dia todo! No passado, os homens ficavam encarregues de derrubar as vagens e as mulheres colocavam-nas em sacas de linho ou serrapilheira, que chegavam a pesar 50kg! Atualmente, a mecanização e automatização torna o processo menos duro e demorado.
A pausa, acontece à sombra das alfarrobeiras, pela hora de almoço, e a ementa foi durante bastantes anos um pedaço de pão, azeitonas, peixe frito ou toucinho.
No fim do longo dia de trabalho, as alfarrobas são transportadas até um armazém, onde ficam ensacadas até serem vendidas. Atualmente, os tratores agrícolas substituem os burros e as mulas de antigamente.
As alfarrobas, são vendidas aos comerciantes em arrobas, que é uma unidade de medida de massa que equivale a 15 quilos. Das vagens são posteriormente separadas as sementes da polpa. Esta última, depois de seca e torrada é transformada em farinha de alfarroba.
Antigamente, considerava-se o dia 29 de setembro, dia de São Miguel, como o dia oficial em que terminava o período de “varejo” no pomar de sequeiro. Atualmente, o varejo é feito de forma mecanizada e o término da colheita é adaptado às características climáticas e ambientais das alfarrobeiras e dos solos que as envolvem.
Por vezes esquecida, a alfarroba, assume novamente um lugar de destaque na economia da região. Portugal é hoje, segundo dados da FAO, o maior produtor mundial de alfarroba. E em 2013, aquando do reconhecimento da “dieta mediterrânica” na lista representativa do património cultural imaterial da humanidade da UNESCO, a apanha da alfarroba foi uma das tradições destacadas.